É o MORDENTE que fará a fibra receber e assimilar a tintura vegetal, fazendo com que esta penetre e permaneça na fibra, tornando-a mais resistente a lavagens e ao sol. O mordente é a ponte que liga a fibra ao corante.

A palavra ‘mordente’ vem do latim , significando ‘mordere’. Com o uso do mordente as fibras estão receptivas p ‘morderem’ o tingimento.

As fibras proteicas, lã e seda,  aderem às tinturas vegetais com muito mais facilidade do que as fibras veg­etais: algodão, hemp, juta, rami.

Após a fibra ter sido purgada (limpa) o próximo passo é aplicar o mordente. Existem outras possibilidades: aplicar o mordente junto ao tingimento ou após o tingimento.

Em todos os processos, purga, mordentagem e tingimento, é importante que  a quantidade de água na panela seja suficiente  para mexer, desenrolar e movimentar a fibra com folga, para que  esta receba o banho em toda sua totalidade .

Atenção para que todos os utensílios usados em todos os processos sejam de uso exclusivo dos tingimentos assim como ter o cuidado de usar luvas.

A panela escolhida para banhar e/ou cozinhar o tingimento pode atuar como mordente. A panela de ferro influencia e altera a cor, a panela de cobre faz certos tons ficarem mais luminosos e acentua o verde, a panela de alumínio para tinturas e preparos de fibras que receberão mordente de alúmem é indicada, a panela de aço inoxidável não influencia em nada e portanto é uma boa opção pela clareza do resultado obtido.

­­­Os mordentes mais comum são:

Alúmem de potássio – ou pedra hume, mineral natural obtido através da extração da alunita,  poderoso anti-séptico usado a mais de 2 mil anos. Recomendado para fibras proteicas.

Acetato de alumínio –  refinado da bauxita. Recomendado para fibras vegetais.

Acetato de ferro – escurece as cores e muda as tonalidades

Tanino – indicado para fibras vegetais, bastante usado como pré-mordente. O tanino auxilia a absorção do alumém na fibra vegetal. Muito usado é o tanino extraído da acácia negra (casca),  outras opções são: barbatimão (casca), inhame (casca), dente de leão (folhas e raízes), anjico (casca), umbigo de bananeira, cascas e folhas de árvores da família da Mirtáceas: goiabeira, araçaeira, eucalipto, acácias. Extrai-se a tintura deixando a matéria vegetal de molho por 1 noite e depois fervendo por 1 hora, coe, separe e acrescente mais agua e fervura p melhor aproveitamento e mais quantidade, mesmo processo que a maioria das extrações de cores das plantas. É possível comprar ácido tânico em pó e no exterior há fácil acesso a outros taninos, seja em lojas ou sites, como o Gallnut (tanino que menos altera a cor do tecido) e o Myrabalan, muito usado na Índia, dá um tom amarelo manteiga à fibra.

Leite de soja – mordente proteico muito usado em algumas culturas, como no Japão. Usado mais para as fibras de celulose (vegetais), recomenda-se que ocorra um tempo de ‘cura’ entre a aplicação do mordente de leite de soja e o tingimento, no mínimo 1 semana, ideal 3 semanas  em local seco e 3 meses em local húmido, quanto mais tempo melhor, tendo o cuidado de guardar o tecido em local seco. A aplicação do mordente pode ser feita da seguinte forma: diluir o leite de soja em agua na proporção de 1/5 se o leite for comprado, caso seja feito em casa, o que é a melhor opcão, por não conter conservantes, será mais grosso,  podendo ser a proporção de 1/8 a 1/10 em relação a agua. Deixar de molho por 12 horas em recipiente que tenha espaço  suficiente para mover o tecido. Retirar e torcer bem, secar a sombra. Guardar o leite em local refrigerador p não fermentar, voltar com o tecido para o banho de leite de soja, deixar por meia hora, retirar, torcer, secar…repetir este processo umas 3 vezes, quanto mais vezes melhor, pois camadas de proteína estarão sendo adicionadas à fibra,  para que isto ocorra o tempo de cura é muito importante.

Outras soluções proteicas podem ser feitas a partir de leites animais ou vegetais, do ovo, da gelatina.

Acetato de ferro – escurece as cores e muda as tonalidades, alguns consideram o acetato de ferro e o sulfato de ferro como ‘modificadores’ de cor e não como mordente.

Creme de tártaro – mais usado para fibras proteicas, amacia a lã, em certas tradições é usado junto ao tingimento com a Rúbia tinctorium p avivar a cor, e com a Cochonilia muda o tom de fúcsia para vermelho. É considerado um modificador de cor.

Decoada – (cinzas de madeiras); solução alcalina, rica em soda cáustica e potássio (dependendo da matéria vegetal que será usada para o tingimento)

 

  • Encontramos mordentes em algumas plantas:

– Ferro: lingua de vaca (Rumex obtusifolius),  confrey (Symphytum officinale)

-ácido oxálico: azedinha (Rumex acetosella) (raiz), ruibardo (Rheum barbatum), espinafre (Spinacea oleracea)

 

  • Aplicar sucessivamente solução alcalina e solução proteica na fibra vegetal é outra opção recomendada.

-Soluções alcalinas: decoada, carbonato de sódio, caqui (fruta)

 

Combinações de mordentes tradicionalmente eficientes:

tanino – alúmem

tanino – alúmen – tanino

tanino – acetato de aluminio

tanino – leite de soja

decoada – leite de soja

alúmem – decoada

 

  • Repetindo o processo: tanino – alúmem, mais vezes resultará em cores mais fortes e mais resistentes.
  • Pode-se guardar o tecido seco com os mordentes aplicados por 1 semana ou mais para então enxagua-lo e repetir a aplicação dos mordentes.
  • Quanto maior o intervalo de tempo entre o preparo da fibra (mordentes) e a aplicação do tingimento, melhor, assim como, após o tingimento guardar a fibra antes de usá-la. Necessário guardar a fibra em local seco e fresco.
  • após cada etapa neutralizar os banhos para estabilizar o ph , usar carbonato de sódio

 

Medidas: sempre em relação ao peso da fibra (tecido), expresso pela sigla WOF (weight of fiber)

acetato de alumínio – 10 a 15% WOF

alúmem – 15% WOF

ácido tanico 15%  WOF – alúmem 10%  WOF – ácido tanico 10 % WOF

alumem 15% WOF – decoada (agua amarelada extraída ao acrescentar agua fervente às cinzas de matérias orgânicas, madeiras, galhos de vegetais… ao coar)