ÍNDIGO
O AZUL NATURAL
Mais de 800 espécies do gênero Indigofera estão espalhadas pelo mundo e pertencem à família Leguminosae, 600 espécies estão na África, aproximadamente 200 na Ásia, mais ou menos 80 nas Américas e entre 50 a 60 na Austrália. A espécie mais amplamente explorada é a Indigofera Tinctória, um arbusto perene cultivado em zona tropical. Diz-se que o conhecimento da extração espalhou-se da Índia ao sudeste asiático, seguindo para o Oriente Médio e África, depois Américas. Outra importante espécie cultivada na África é a Indigofera Arecta, considerada a melhor variedade para tingimento, introduzida no meio do século XIX em Java, chamada ‘Natal índigo’, depois cultivada na Índia, chamada ‘Java índigo’, também cultivada no Vietnã, Laos, Indonésia, Filipinas. Outra importante espécie nativa da América tropical, encontrada na Mata Atlântica é a Indigofera Suffruticosa, também cultivada na América do Norte, popularmente chamada de Anileira, em sanscrito Nil significa índigo. Já o índigo japonês, conhecido como Ai é extraído da planta Polygonum Tinctorium, pertencente a grande família Polygonaceae, também cultivado e usado p extrair o índigo na China.
*as informações acima foram retiradas do livro ‘índigo’ de Jenny Balfour-Paul
Desde o plantio até a etapa final da extração do pigmento de índigo, é um processo delicado que envolve várias etapas e detalhes, portanto distintos povos de diferentes regiões do mundo desde tempos remotos usam específicos rituais e mesmo supertições para obterem sucesso.
QUÍMICA E/OU MAGIA NA EXTRAÇAO DO ÍNDIGO
INDICAN_____INDOXYL_____INDIGOTIN
O precursor do Índigo é o ‘indican’ que esta concentrado nos vacúolos das folhas da planta. Na etapa em que as folhas são submersas na agua, aquecidas e/ou fermentadas, ocorre a hidrólise, dividindo a molécula precursora ‘indican’ e transformando-a em ‘indoxyl’, que estará presente na solução. Na etapa seguinte, o ‘indoxyl’ irá nessessitar de um agente oxigenador, no caso, o ar atmosférico para ser transformado em ‘indigotin’, que vem a ser o pigmento ativo do Índigo. O ‘indigotin’ é insolúvel e necessita decantar para então ser filtrado.
EXTRAÇÃO
Existem diferentes métodos de extração do índigo, o Japão por exemplo, que tem uma forte ancestralidade na maestria de produzir o índigo, desenvoveu e aprimorou técnica própria, ‘Ai’=índigo, ‘Aizome’=tingimento com índigo e ‘sukomo’= o resultado da técnica de extração onde as folhas da Persicária Tinctória também chamada de Polygonum Tinctorium passam por longo processo de secagem e fermentação. Aqui abordarei a extração aquosa, que é praticada no mundo a centenas de anos, a planta usada é a Indigofera Suffruticosa, chamada de Anileira, planta nativa de minha região, não tão fácil de achar aonde habito, portanto planto e cultivo.
O processo básico tem 4 etapas:
I- Extração – Pode ser feita com a água em temperatura ambiente ou com a água quente: com a água em temperatura ambiente, colocam-se as folhas de anileira, colhidas de preferência ao amanhecer do dia, em um recipiente, acrescenta-se a água colocando um peso sobre as folhas para que fiquem submersas, cobre-se o container e esperamos fermentar. A fermentação ocorrerá em 24 horas, ou 48 horas, ou mais ou menos, dependendo do clima do local, é necessário estar atento observando o processo de fermentação para não passar do tempo necessário, pois neste caso o processo é irreversível falhando a extração. Há indicadores que apontam para o momento da retirada das folhas do container, mostrando o ponto correto de fermentação: a cor, um ‘azul neon’ do líquido, uma camada metálica cobrindo a solução, bolhas e um cheiro específico de fruta. A extração em água quente é rápida, a temperatura da água jamais deve ultrapassar os 50’C e 2 horas nesta temperatura constante devem ser suficientes. Nesta primeira etapa, da fermentação, a primeira transformação da molécula ocorre: indican____indoxil
II- Aeração – A interação do ‘indoxil’ com um agente, no caso o ar atmosférico – o oxigênio, produzirá o pigmento azul – o ‘indigotin’. Existem algumas opções para aerar uma solução, depende do volume: em balde ou recipiente em torno de 10 litros, usar outro balde e ficar passando a solução de um para outro; instalar uma bomba de ar, fazendo a solução circular com um chafariz dentro do recipiente (tina-container); durante séculos aerou-se o índigo em grandes tanques usando-se a força das pernas de muitos homens. A aeração estará indo bem quando a espuma que vai se formando tornar-se azul e estará completa quando retirada uma amostra da solução e colocada em um vaso de vidro, esta terá uma coloração avermelhada acima e no fundo do pote uma camada de pigmento decantada. Para o pigmento índigo decantar é necessário a solução estar alcalina, o ph 11 é considerado ideal.
III- Alcalinização – Muitos alcalinizam a solução antes da aeração, mas alcalinizar depois é uma opção, é importante cada qual fazer seus próprios experimentos e estudos. O hidróxido de cálcio ou cal virgem é um alcalinizante muito usado no processo de extração do índigo. É necessário ter em mãos o medidor de ph para deixar a solução com ph 11 e então deixa-la descansar sem movimenta-la, cobrindo-a e aguardando algumas horas ou até o dia seguinte, para o pigmento decantar,
IV- Filtragem – Uma vez decantado o ‘indigotin’ no fundo do container/recipiente/tina, é necessário separá-lo de todo o líquido. Existem equipamentos especializados para uma filtragem em larga escala, tanques em diferentes niveis com torneira de saída em determinada altura é outra forma de retirar a água alcalina, eu faço a filtragem em diversas etapas, procurando mexer o mínimo possível a solução e por fim utilizo um tecido de seda para a filtragem final. Neste ponto será obtido um creme, se este índigo extraído é para uso próprio aconselho deixa-lo nesta forma, de pasta/creme por já se encontrar hidratado. Caso se queira armazenar o índigo por tempo indeterminado é aconselhavel deixa-lo secar.
Foto 1 – Indigofera Suffruticosa – Anileiras, colhidas Foto 2 – adicionando água Foto 3 e 4 – todos os sinais do processo de fermentação .
Foto 1, 2 e 3 – retirando as folhas de anileira Foto 4 – folhas expremidas para o máximo de aproveiramento da extração.
Foto 1 e 2- aerando, passando de um recipiente para outro Foto 3 – filtragem Foto 4 – ‘pasta’ de pigmento Índigo