Existem inúmeras plantas com matéria tinctória, algumas em sua taxonomia (nome) é apontado o potencial tinctório, ex: o Pau Brasil – Caesalpinia tinctória, de seu cerne extrai-se o corante vermelho; Taiúva – Maclura tinctória, seu extrato fornece corante amarelo ao pardo…
O conhecimento do uso de muitas plantas p extração de corantes já data de séculos. Em 1856 pela primeira vez foi sintetizado um corante sintético, até então todos os tingimentos eram vegetais, ou minerais ou mesmo animais. Com a descoberta dos corantes sintéticos o tingimento natural foi quase totalmente substituído pelos químicos, gerando grande prejuízo ao meio ambiente (a indústria têxtil é uma das mais poluentes).
Ainda que muito lentamente, a consciência ambiental vem despertando mentes e algumas delas tem se empenhado em trabalhar a favor de nosso planeta. São inúmeras áreas: a sustentabilidade, o plantio orgânico, o reflorestamento, a preservação das fontes de agua, enfim, a prática da consciência ecológica ….e na área da moda, decoração ou tudo relacionado ao vestuário, o tingimento natural faz a sua grande parte no compromisso com o cuidado ambiental.
Através deste site procuro colocar ao alcance de todo aquele que tenha algum interesse em Tingimento Vegetal, ensinamentos básicos. É um trabalho complexo, com infinitas variáveis, por tratar-se da impermanência das matérias naturais, sempre tendo em vista que cada planta e cada cor reage de maneira diferente ao mordente , à fibra/tecido, aos tempos de cozimento da tintura e/ou de molho no banho de tintura, o material da panela usada com a tintura e/ou mordente, se de alumínio, cobre, ferro, aço inoxidável, tudo influenciará, até mesmo a agua, se mais alcalina ou mais ácida, assim como ao se colher a matéria vegetal dependerá da época do ano, da fase da lua, do tempo da própria planta, ex. se antes da floração, se colhida no chão ou na árvore, em tempo de seca ou de chuva, o somatório dos fatores definirá o resultado final.
As fibras protêicas: seda e lã, tem afinidade com a tintura vegetal, as cores ficam mais fortes e aderem à fibra com mais facilidade, precisamos ter o cuidado de não deixar a temperatura da agua ultrapassar os 60 ‘C . Já as fibras vegetais, algodão, linho, juta, rami, necessitam passar por mais preparação para torna-las receptíveis à cor e para que as cores sejam fixas, firmes e duradouras. A temperatura da purga, mordentagem e tinturas das fibras vegetais não deve ultrapassar os 90’C.
Para a fibra/tecido aceitar o tingimento vegetal é essencial prepara-lo e o primeiro passo é a ‘PURGA’, que vem a ser a total limpeza de resíduos que normalmente são usados na fabricação.
–Receita Básica de Purga para 1 kilo de tecido
ralar 200 grs de sabão de coco; diluir em 5 litros de agua fervente; adicionar 50 ml de alcool; e 3 colheres de sopa de bicarbonato de sódio.
Mexer para dissolver; Levar ao fogo por 40 min. com o tecido; Deixar esfriar; Lavar o tecido para retirar o sabão.
O segundo passo, é a aplicação do mordente na fibra, vale observar que pode ser feito antes do tingimento, junto ao tingimento ou depois. É de importância fundamental os mordentes, responsáveis pela aderência e permanência da tintura à fibra. Para determinadas tinturas são usados específicos mordentes, que podem variar, para se obter outras tonalidades e mesmo mudar a cor, neste caso chamados de ‘modificadores de cor’. Existem mordentes vegetais e minerais. Os MORDENTES é um assunto tão amplo e rico que abri uma outra página somente sobre mordentagens, basta clicar na palavra ‘mordente’ em azul que será direcionado.
As medidas das receitas de matéria vegetal (orgânica) para os tingimentos e das quantidades de mordente, são sempre uma percentagem em relação ao peso da fibra seca – WOF (Weight Of Fiber). O primeiro passo é pesar o tecido, ainda seco, antes da purga.
ex: 1 kilo de tecido – 10% WOF de pau-brasil = 100 grs
Recomendo que de cada experiência de tingimento seja guardada uma amostra com todas as etapas dos processos anotadas, a organização destas amostras se tornará um precioso guia.
A maioria das experiências de Tingimento Vegetal que compartilho aqui serão com shibori, que vem a ser uma técnica japonesa ou um aprimoramento do tie dye, que como o nome diz é ‘amarrar e tingir’, o shibori amarra-se e/ou dobra-se e/ou costura-se o tecido, fazendo com que partes do tecido não entre em contato com a tintura. Fazer Shibori é uma atividade que já faz parte de mim, nos anos 90 e após, tive a oportunidade de ir diversas vezes ao Japão, desde então iniciei-me nesta arte e no interesse do aprendizado do ÍNDIGO.
Extração
Os extratos devem ser preparados antes do tingimento, geralmente o material colhido é de cascas de árvores, folhas, flores …que são armazenados em um recipiente, cobertos com agua e deixados de molho por uma noite, para depois serem fervidos por 1 hora. Dependendo da matéria vegetal faz-se mais fervuras, coa-se o primeiro cozimento, acrescenta-se mais agua e ferve-se novamente… podemos armazenar estas tinturas separadamente, pois terão tonalidades diferentes ou podemos junta-las. Todos as tinturas após a extração da cor, ou seja, depois de fervidas, são coadas, geralmente uso tecido de algodão com a trama mais fina e no caso do Índigo coo com seda.
Vale aqui mencionar que a extração do Índigo é completamente diferente, o processo é de fermentação das folhas e dedico a ele uma atenção especial neste site, pois é complexo ao mesmo tempo que mágico e maravilhoso.
Procedimento durante o tingimento:
Usar sempre uma panela grande o suficiente para que a fibra/tecido tenha espaço suficiente para ser movimentada, ou seja, mexida constantemente durante o tempo que se encontra na panela sendo tingida. Nunca deixar a temperatura ultrapassar os 60’C para sedas e lãs e os 90’C para fibras vegetais. Deixar a tintura esfriar com o tecido dentro ou retirar o tecido colocando-o em outro recipiente até esfriar.
Procedimento após o tingimento:
Após retirar o tecido do banho de tingimento e já frio, lava-lo delicadamente para retirar algum excesso que possa vir a estar depositado no tecido. Secar à sombra e guarda-lo por alguns dias, de uma a duas semanas ou mesmo mais, para então enxágua-lo devidamente com sabão neutro, uso sabão de coco. Secar sempre à sombra.